quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dia Mundial do Livro - Livros das nossas vidas




O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde




“ If only it was the picture who was to grow old, and I remain young. There´s nothing in the world I wouldn´t give for that. Yes, I would give even my soul for it.”
Até onde estaria eu disposto a ir para manter para sempre a beleza que não tenho e a juventude que já perdi? O que daria eu em troca pela capacidade que não tenho de não me deixar seduzir?
Esta obra foi publicada pela primeira vez em 1890 e foi considerada, na altura, como “envenenadora dos costumes”, porque toda ela se reveste de uma declarada crítica à alegada falta de virtudes da alegadamente desinteressante e corrompida sociedade inglesa da época.
Trata-se de um livro acerca da arte.
Não, trata-se de um livro acerca da juventude e da beleza.
Não, trata-se de um livro acerca da harmonia da nossa capacidade de pensar.
Não, trata-se de uma livro acerca dos nossos vícios e da nossa vontade de nos deixarmos corromper e de nos tornarmos maus e de escolhermos vender a própria alma.
Sim, trata-se de um livro acerca de nós.
Dorian Gray é um belíssimo jovem da alta sociedade, maracdo pela imaculada juventude dos seus 18 anos. Aceita posar para o seu amigo Basil Hallward, que se oferece para pintar um retrato seu. O pintor, obcecado pela beleza do jovem, lisonjeia Dorian Gray e ensina-o a ter vaidade da sua própria beleza. Entretanto, apresenta-lhe o seu amigo Lord Henry, um mestre nas palavras e o meu personagem preferido, que inicia Dorian Gray na adoração pela maravilha da juventude e lhe desperta uma enorme curiosidade sobre a vida.
Mundo injusto este, em que não somos todos jovens.
Em que não somos todos belos.
Em que não somos todos jovens e belos.
Ou somos?
Dorian Gray apercebe-se de que, a cada acto cruel seu, equivalem pequenas alterações que vão surgindo no quadro… e esse quadro passará a estar guardado num quarto trancado, onde Dorian Gray se entretém a observar ora o rosto já envelhecido do quadro ora o rosto jovem que lhe devolve o espelho, cuja comparação o estimula. Acaba, efectivamente, por se apaixonar, também ele, pela sua própria beleza.
A dada altura, o seu amigo pintor Basil alerta-o para o isolamento em que Dorian Gray se encontra e confirma-lhe que a sua juventude incorrupta contrasta com as opiniões mais horríveis que as pessoas têm sobre a arrogância que Dorian Gray veio desenvolvendo. Porque Dorian Gray, consciente do fantástico poder de influência que lhe confere a sua beleza e juventude (eternas?) e da capacidade deliberada de corromper os outros, levara todos os seus amigos e todos aqueles que se deixavam seduzir a perderem o sentido da inocência e da dignidade. Porque deixarmo-nos seduzir é isso mesmo.
Dorian Gray guia o seu amigo pintor Basil ao quarto trancado. Basil reconhece, horrorizado, no rosto já desfiguradamente velho com que se depara, o quadro que ele próprio pintara de Dorian Gray, há anos atrás. Em pânico, não consegue encontrar a beleza deslumbrante do rosto de Dorian Gray na face hedionda que a tela lhe apresenta agora.
Dorian Gray relembra-lhe o desejo formulado por ele próprio há muito tempo atrás, quando o seu próprio retrato lhe incute o fascínio pela maravilha da beleza. Sente um súbito ódio por Basil e, sendo ele, ainda por cima, o único a conhecer agora o seu segredo, assassina-o.
Que se passou com o retrato?
Que segredo foi esse?
Qual é o desenlace da história?
Não vou contar.
Porque é importante não me esquecer de que não seremos para sempre todos jovens.
De que não seremos para sempre todos belos.
De que não seremos para sempre todos jovens e belos.

Ou somos?



Jorge André Almeida

23 de Abril de 2008



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